VINHAS VELHAS: O QUE SÃO E PORQUE FAZEM UM VINHO ESPECIAL?

VINHAS VELHAS: O QUE SÃO E PORQUE FAZEM UM VINHO ESPECIAL?

Se acompanha o mundo dos vinhos, certamente já se cruzou com esta expressão. Mas sabe o que ela significa?

Neste artigo vamos explicar-lhe o que são vinhas velhas, indicar as razões pelas quais, hoje em dia, elas estão tão em voga e ainda revelar-lhe o que pode esperar de um vinho com estas características.

O que quer dizer vinhas velhas?

A designação “vinhas velhas”, que hoje se encontra em muitos rótulos de garrafas, indica um vinho que foi produzido a partir de videiras com uma idade incomum. Esta longevidade imprime à uva um perfil distinto, resultando, muitas vezes, num vinho de qualidade superior.

Outra característica diferenciadora das vinhas velhas é a diversidade de castas que representam. Estes vinhedos são, geralmente, compostos pelas castas autóctones ou mais antigas de uma determinada região, misturando, em muitos casos, variedades de uvas brancas e tintas no mesmo perímetro.

Tendo em conta a longa tradição vitivinícola de Portugal, ainda é possível encontrar, distribuído pelas várias regiões produtoras, um valioso património de vinhas velhas, que conseguiu preservar, até hoje, muitas castas raras e cuja origem se perde no tempo.

Breve história das vinhas velhas em Portugal

Até aos anos 60 do século XX, a maior parte das vinhas plantadas no nosso país era multifacetada, reunindo uma coleção diversificada de variedades de uvas, que eram escolhidas de forma empírica ou até aleatória.

Geralmente, a produção destas videiras surgia acompanhada de outras culturas, como a oliveira, o trigo ou árvores de fruto. Esta policultura era feita no mesmo terreno e custosa de trabalhar, já que tudo era feito à mão, por norma em espaços exíguos e apertados.

A partir dos anos 80, a viticultura foi alvo de um grande processo de industrialização e começaram a surgir vários apoios para a substituição de vinhas velhas por videiras jovens, capazes de produzir uma maior quantidade de uvas por ano e, como tal, de gerar maiores rendimentos.
Nessa altura, e nos anos que se seguiram, o conceito de “vinha velha” passou a ser pouco explorado, dando lugar a vinhas modernas, com a introdução de novas castas, de plantações por talhão e da mecanização de vários processos.

A valorização do passado e de um “regresso às raízes” é um fenómeno recente, verificando-se agora um interesse crescente pela preservação destes vinhedos mais antigos e de toda a história e sabedoria que eles encerram.

Que idade devem ter as videiras para serem consideradas vinhas velhas?

Surpreendentemente, não existe uma lei, uma regra geral ou sequer um consenso para determinar, com exatidão, a idade a partir da qual uma vinha pode passar a ser classificada como uma “vinha velha”.

Em Portugal, esta definição varia de região para região. O mesmo cenário repete-se de país para país, não havendo, igualmente, uma regulamentação internacional que oriente esta questão.

Sendo que a indicação nos rótulos do termo “vinhas velhas” tem como finalidade chamar a atenção do consumidor para um vinho raro e especial, esta ausência de uniformização de regras pode gerar alguma confusão ou até mesmo casos de desinformação. Por esta razão, assiste-se já, a nível global, ao aparecimento de vários movimentos e organizações que procuram criar alguns princípios regulamentadores, que permitam clarificar a informação transmitida aos consumidores e valorizar os vinhos em questão.

Douro: a primeira região a valorizar as vinhas velhas

A região do Douro foi a primeira, a nível nacional, a dar um primeiro passo relevante para a organização e valorização deste património vinícola.

Sendo esta a região onde mais facilmente se encontram vinhos produzidos a partir de vinhas velhas, o Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) definiu, em dezembro de 2020, um conjunto de regras que os produtores deverão cumprir para poder utilizar essa designação nos seus rótulos. Esta regulamentação é válida para vinhos de Denominação Origem Controlada (DOC) Douro, vinhos regionais durienses e para vinho do Porto.

Para se poderem apresentar como vinhas velhas, os vinhedos desta região terão, entre outras regras, que seguir indicações como:
- ter mais de 40 anos de idade
- apresentar um mínimo de 4 castas
- reunir um mínimo de 5 mil pés de videira por hectare

Vinhas velhas são obrigatoriamente sinónimo de qualidade?

Há a ideia generalizada junto dos consumidores de que a idade é garantia ou sinónimo de qualidade acrescida, o que, no caso das vinhas velhas nem sempre corresponde à realidade.

Não é simplesmente por terem muitos anos de vida, que estas vinhas conseguem dar origem a vinhos excecionais. Para que isso aconteça, é preciso que a vinha esteja saudável, bem adaptada ao clima e ao solo onde está plantada e que reúna, predominantemente, castas de elevado valor enológico.

Todo este processo exige uma gestão cuidada e a execução de procedimentos adequados que permitam às videiras continuar a gerar uvas de elevada qualidade. Estando reunidas estas condições, os vinhos que daí resultam têm todo o potencial para serem vinhos fora de série.

As características diferenciadoras que se procuram numa vinha velha

Para além dos seus troncos tradicionalmente grossos e retorcidos, as vinhas velhas são reconhecidas pelo seguinte perfil:

> Diversidade genética
Conjugando castas diversas, com diferentes características, transmitem uma grande complexidade de aromas e sabores ao vinho que delas resulta.

> Uvas mais concentradas

Com a idade, as videiras tendem a produzir menos uvas. Esta redução traduz-se num menor rendimento, mas também numa maior concentração de açúcar e sabor em cada baga, dando origem a vinhos mais complexos.

> Raízes mais profundas
Apresentando raízes mais extensas, as vinhas velhas conseguem ir buscar água e nutrientes a partes mais profundas do solo. Por este motivo, são mais resilientes face a variações climáticas adversas.

> Harmonia com o terroir
Menos sujeitas à influência de fatores externos, as vinhas velhas conferem maior equilíbrio e constância à fruta que produzem, desenvolvendo uma relação adaptada e harmoniosa com o território onde se encontram. A profusão e a autenticidade das castas utilizadas proporcionam vinhos muito equilibrados e com uma forte identidade, que expressa, de forma fiel, as características do terroir de origem.

A importância de preservar a cultura das vinhas velhas

Pode estar a perguntar-se porque é que, perante todo este potencial, as vinhas velhas continuam a ser, muitas vezes, preteridas (e até substituídas) por videiras mais jovens.

Já referimos a sua produção reduzida, que se traduz em menores rendimentos para o produtor. Para além dessa questão, cuidar de uma plantação de vinhas velhas é mais trabalhoso e dispendioso do que cuidar de uma vinha jovem. Raramente é possível a utilização de máquinas neste processo de manutenção, sendo necessário recorrer a muito trabalho manual e a mão-de-obra especializada para a execução dos trabalhos que, muitas vezes, diferem de uma videira para a outra. Os custos inerentes a todas estas operações podem ser assim bastante significativos.

Em contraponto, assiste-se a uma tendência crescente de um maior interesse pelo estudo e preservação deste património. O potencial destas vinhas para gerar vinhos fora de série e com maior valor agregado é um dos motivos, mas não o único.

Muitos profissionais ligados ao universo vínico defendem que um estudo mais aprofundado do comportamento das vinhas velhas pode gerar contributos importantes para se compreender a resiliência que as videiras jovens precisam de ter para melhor enfrentar as mudanças climáticas da atualidade.

Outra razão que motiva a defesa dos vinhedos mais antigos diz respeito ao valor histórico e cultural que eles aportam. Muitas delas são vinhas que sobreviveram a guerras, pragas e disputas territoriais, e que testemunham, de forma silenciosa, a história do local onde estão plantadas.

Deixe-se levar pelo sabor da história

Agora que já sabe um pouco mais sobre as vinhas velhas, é altura de apreciar a viagem histórica que estes vinhos lhe proporcionam através do paladar.

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