VINHO DO PORTO: UM VINHO COM SÉCULOS DE HISTÓRIA

VINHO DO PORTO: UM VINHO COM SÉCULOS DE HISTÓRIA

Conhecido e apreciado em todo o mundo, por milhões de pessoas, o vinho do Porto é um dos símbolos máximos de Portugal e um dos seus maiores embaixadores.
Provar um vinho do Porto é um convite a saborear um pouco da história e da cultura deste país.

O seu carácter distintivo resulta da combinação do terroir único do Douro, a região onde é produzido, e de séculos de tradição e de aprendizagem na arte de fazer bom vinho.

Contando já várias centenas de anos, a história do vinho do Porto reúne diversos ingredientes de um bom enredo: um início envolto num certo mistério, um percurso marcado por guerras, alianças e alguma polémica à mistura, muitos desafios e superações e, por fim, o alcance da glória.

Acompanhe-nos neste texto e fique a saber um pouco mais sobre a origem do vinho do Porto.

 

A primeira referência ao vinho do Porto

O vinho do Porto é exclusivamente produzido a partir de uvas da região do Douro - a mais antiga região demarcada do mundo -, situada no norte de Portugal.
Estima-se que a plantação de vinhas nesta região seja feita há mais de 2000 anos. Há várias descobertas arqueológicas que testemunham esse cultivo milenar ao longo das margens e encostas do rio Douro.

Embora a data exata da sua origem seja desconhecida, a primeira referência oficial ao vinho do Porto remonta ao ano de 1675. Esta surge num documento que regista a primeira exportação de vinho com essa designação, numa altura em que este era já procurado internacionalmente.

De facto, ainda que a sua produção fosse feita no Douro, estes vinhos da região ficaram famosos devido às exportações que, então, mercadores ingleses, alemães e holandeses faziam, a partir da cidade do Porto, para todo o mundo. Por esta razão, o vinho passou a ser conhecido pelo nome de “Vinho do Porto”, o local onde historicamente era embarcado.

Outro fator histórico interessante, que hoje define a identidade do vinho do Porto, é a adição de aguardente que alguns produtores faziam aos vinhos destinados à exportação. Esta técnica tinha como objetivo inibir a atividade e multiplicação de microrganismos responsáveis por reações indesejáveis nos vinhos, assegurando assim uma melhor preservação do vinho durante as viagens marítimas. Em anos em que as uvas atingiam uma elevada concentração de açúcar, obtinham-se vinhos naturalmente mais doces e com um teor alcoólico mais elevado que os restantes vinhos, o que conquistou um grande número de apreciadores .
Ainda que esta fortificação fosse um pouco diferente do processo utilizado nos dias de hoje, esta prática acabou, mais tarde, por se generalizar, afirmando-se como etapa indispensável na produção de vinho do Porto, tal qual o conhecemos.

 

O contributo do Reino Unido na internacionalização do vinho do Porto

No último terço do século XVII, a política europeia acabou por dar origem a um importante capítulo na história do vinho do Porto.
As tensões crescentes que nessa altura existiam entre França e Inglaterra culminaram num embargo inglês aos produtos provenientes do país rival, entre os quais os famosos vinhos franceses.
Forçados a procurar vinhos noutro local, os mercadores ingleses viram em Portugal uma alternativa interessante. Desde logo porque existiam já fortes relações comerciais entre os dois países, muito fomentadas pelo Tratado de Windsor. Assinado em 1386, este acordo veio estabelecer uma aliança política, militar e comercial entre Inglaterra e Portugal. Entre outros pontos, o tratado concedia aos comerciantes de cada país o direito a residir e a comercializar, em condições de igualdade, em ambos os territórios, o que fez com que muitos ingleses decidissem estabelecer-se e começar a viver no nosso país.

Perante esta grande oportunidade de negócio, os comerciantes ingleses residentes em Portugal souberam rapidamente tirar partido da situação, o que resultou num aumento significativo das importações de vinho português com destino a Inglaterra. Descobriu-se que os vinhos finos do Douro reuniam a preferência do exigente palato inglês e, como tal, o Reino Unido acabou por se tornar no principal mercado para os produtores de vinho do Porto. Esta é uma das razões que explica o facto de muitas casas de vinho do Porto terem sido fundadas por ingleses que cá moravam.

Algumas décadas mais tarde, em 1703, é assinado o Tratado de Methuen, também conhecido como o Tratado dos Panos e Vinhos. O novo acordo estabelecia a livre entrada dos tecidos ingleses em Portugal e, como contrapartida, a redução das taxas aduaneiras sobre os vinhos portugueses que chegavam a Inglaterra. Em resultado da implementação deste tratado, a viticultura nacional foi fortemente impulsionada e a região do Douro não foi exceção.

Beneficiando do prestígio que era reconhecido ao comércio inglês, o vinho do Porto ganhou força nos mercados internacionais e passou também a ser importado por países como a Holanda, França e Alemanha.

 

A criação da primeira Região Demarcada e Regulamentada do Mundo

O crescimento exponencial das exportações de vinho do Porto acabou por trazer consigo uma série de problemas. Desde logo, porque a procura ultrapassou a oferta existente. Para colmatar o problema da escassez e potenciar o lucro, começaram a surgir no mercado vinhos de baixa qualidade, vinhos adulterados e até falsificações que recorriam a vinhos de outras regiões para fabricar vinho do Porto. Este contexto acabou por afetar o prestígio deste produto, que viu o seu preço desvalorizar e o número de importações decair.

Perante esta situação, o então governo liderado pelo Marquês de Pombal responde com uma política de fiscalização de qualidade pioneira, destinada a proteger o genuíno vinho do Porto e a preservar as boas relações comerciais com os mercados internacionais.

 Em 1756, o Marquês decide fixar a produção de vinho do Porto exclusivamente na região do Douro e criar aquela que seria a primeira região demarcada e regulamentada do mundo.


Cuidadosamente mapeado, o Douro foi dividido em duas zonas distintas: uma destinada à produção de vinho doméstico (direcionado para o consumo nas tabernas do Douro e do Porto) e outra à produção do chamado “vinho de feitoria”, um vinho de qualidade superior, elegível para ser exportado. A área onde este vinho poderia ser produzido – designada por “Feitoria” - foi delimitada através da colocação de 335 marcos de pedra (os chamados marcos pombalinos). Alguns destes marcos podem ainda hoje ser encontrados ao longo das encostas do Douro, embora os limites originais da região demarcada tenham sofrido alterações nos séculos seguintes.

No mesmo ano, é também fundada a Companhia Geral de Agricultura e Vinhas do Alto Douro. Este organismo tinha como missão defender o prestígio do Vinho do Porto no estrangeiro através da regulamentação da sua produção e respetivo comércio.

Esta política visionária do Marquês de Pombal acabaria por ser um marco relevante na história do Vinho do Porto. O restabelecimento da qualidade do produto e a revitalização da sua imagem junto dos mercados externos foram alcançados com sucesso. Ainda hoje, o vinho do Porto continua sujeito aos mais rigorosos e sofisticados programas de controlo de qualidade.

 

O Barco rabelo: um ícone ligado ao vinho do Porto

Foi também durante o período pombalino que se afirmou a identidade de outro grande símbolo ligado à cidade do Porto e à história do seu vinho: o barco rabelo.

Típica do rio Douro, esta embarcação era tradicionalmente utilizada para transportar o vinho produzido nas quintas durienses até Vila Nova de Gaia, onde este era armazenado e envelhecido para, posteriormente, ser comercializado e enviado para outros países.

Naquela época, o transporte fluvial era uma viagem atribulada e perigosa devido às correntes turbulentas do rio Douro (só mais tarde, com a construção das barragens é que as águas deste rio se viriam a tornar mais calmas, como hoje as conhecemos). Pensado para se adaptar a estas características de navegação, o barco rabelo, com o seu fundo plano, o grande leme e a imponente vela permitia a realização de manobras mais rápidas e precisas.

Com a chegada do comboio e, mais tarde, com o desenvolvimento rodoviário, o transporte fluvial assegurado por estas embarcações entrou em declínio. Atualmente, os barcos rabelo embelezam as margens do rio Douro, no Porto e em Vila Nova de Gaia, onde os turistas podem admirá-los e também fazer uma visita a algumas das caves que ainda hoje armazenam vinho do Porto. As caves da Cálem e da Burmester estão entre as caves de vinho do Porto mais procuradas pelos visitantes.

 

A origem do Douro contemporâneo

O século XIX ficou marcado por uma série de crises que acabariam por afetar o setor do vinho do Porto.
A começar pelas acesas discussões que opuseram produtores e comerciantes em torno do papel de intervenção e regulação que o Estado deveria ter neste setor.

Assitia-se a uma recessão na procura mundial de vinho do Porto e à perda de posição no seu principal mercado, com os britânicos a darem preferência aos vinhos espanhóis e franceses. A esta crise comercial veio juntar-se um conjunto de pragas – primeiro o oídio e, mais tarde, a filoxera – que devastaram os vinhedos durienses e destruíram muitas culturas, levando vários produtores à ruína. Este contexto veio dar força aos que defendiam a necessidade de liberalização do setor do vinho do Porto. 

Progressivamente, o regime protecionista de que o Douro era alvo desde 1756 começou a desmoronar, culminando, em 1865, na abolição de todos os mecanismos de regulação existentes.  Desde a abertura da linha de demarcação da área vinhateira, ao fim da exclusividade da barra do Porto para a exportação destes vinhos e à eliminação dos processos de fiscalização e certificação a que estes eram submetidos.

Tudo isto acabaria por promover mudanças profundas na vitivinicultura da região, lançando as sementes do Douro contemporâneo. Rapidamente, o cultivo de vinha expande-se para a zona do Douro Superior, gerando uma reorganização do território, surgem novas práticas de preparação dos terrenos, novos métodos para a plantação e seleção de castas e formas de aperfeiçoar os processos de vinificação.

A liberalização do setor permitiu alcançar outros mercados que ainda hoje são muito relevantes para o vinho do Porto, tais como a Escandinávia, a Rússia, o Brasil ou os EUA. Por outro lado, deu também origem a uma série de efeitos perversos, nomeadamente uma crise de superprodução, acompanhada pela proliferação de fraudes, tanto a nível interno como externo. Imitações de vinho do Porto – como os French Ports, os Hamburg Ports ou os Tarragona Ports – tornaram-se frequentes nos principais mercados internacionais, onde eram vendidos com preços e qualidade mais baixos, desvalorizando a imagem dos genuínos Port Wines.

A chegada do século XX veio agravar o conflito entre os agentes do setor e tornou evidente a necessidade de uma nova regulamentação. Assegurar a exclusividade da denominação de origem Porto para os vinhos produzidos no Douro tornou-se numa das principais reivindicações da região, a par de outras medidas protecionistas.

Aos poucos, foram regressando alguns dos princípios que anteoriormente tinham marcado a política pombalina de defesa da marca, entre os quais uma nova demarcação da região produtora, agora incluindo também o Douro Superior, e a criação de organismos como a Casa do Douro e o Instituto do Vinho do Porto, encarregados de proteger a produção e de promover a qualidade do produto, que ainda hoje se mantêm.


A região volta a conhecer um período de crescimento e de grande desenvolvimento tecnológico e científico. Surgem novas formas de fazer vinho e são criados novos estilos de vinho do Porto, dando origem a uma enorme diversidade de oferta. Surpreendendo pela riqueza do seu portefólio, o vinho do Porto conquista novos apreciadores e consolida a sua reputação como uma referência a nível global.

 

Vinho do Porto: um elemento-chave para o turismo da região

O vinho do Porto é hoje um simbolo incontornável para o turismo da região, atraindo, todos os anos, milhões de visitantes de todo o mundo.

Para além das famosas caves de vinho do Porto, em Vila Nova de Gaia, são muitas as quintas no Douro que hoje têm hoje as suas portas abertas ao público, dando a conhecer toda a história da produção deste néctar.

Um desses exemplos é a Quinta de S. Luiz, berço da mais antiga Casa de Vinho do Porto (a Kopke, fundada em 1638), onde é possível mergulhar na atmosfera autêntica de uma quinta vinhateira.
Aqui, acompanha-se todos os passos da produção, da vinha ao vinho, tendo como pano de fundo uma vista inigualável sobre o rio Douro e os famosos socalcos da região, paisagem reconhecida pela UNESCO como Património Mundial da Humanidade desde 2001.

Longe vai o tempo em que o vinho do Porto era exclusivamente bebido em momentos de celebração.
Mostrando toda a sua versatilidade, este vinho pode hoje ser apreciado em qualquer ocasião. Desde a forma tradicional, como aperitivo ou digestivo, brilhando também na companhia de pratos de carne ou de peixe, queijos, doces e sobremesas ou, até mesmo, sob a forma de refrescantes cocktails.

Qualquer que seja o momento, temos um vinho do Porto para si. Descubra a seleção de propostas que lhe preparámos na nossa UVA Wine Shop.